14 de março de 2014

Alguma coisa subiu à cabeça de Rui, o Falcão


Marlene Bergamo/Folha
Submetido aos bons tratamentos de um camarote na Sapucaí, cercado de facilidades, petistos e líquidos variados, o presidente do PT, Rui Falcão, entregou-se, em pleno Carnaval, à observação crítica do cenário político. Instaram-no a comentar o apreço do PMDB do Rio por Aécio Neves. Skindô… E Falcão atribuiu o fenômeno à recusa do Planalto em ceder às pulsões fisiológicas do PMDB do líder Eduardo Cunha. Skindô-skindô… Seguiu-se um arranca-rabo que resultou na carnavalização do bloco governista na Câmara.
Nesta quarta-feira (12), em encontro com militantes petistas na capital acreana, Rui Falcão disse que Dilma Rousseff não vai se render ao ‘toma-lá-dá-cá’. Afirmou isso num instante em que o ministro petista Aloizio Mercadante (Casa Civil), escalado por Dilma para conter a rebelião no condomínio, está com o abdômen encostado no balcão. Do modo como se expressou, o companheiro Rui, o Falcão, parece acalentar o sonho do partido único:
“…Nós elegemos três vezes o presidente da República e não fizemos 20% da bancada. Se houvesse um alinhamento entre a campanha presidencial e os partidos que dão suporte à presidente, nós teríamos a eleição da presidente com a maioria assegurada no Congresso sem precisar desse jogo que nos impõem e nós não aceitamos que é o toma-lá-dá-cá. É porque a presidente Dilma tem resistido, não cede e não vai ceder a pressões e chantagens que tentam fazer com ela.”
Há uma semana, em café da manhã promovido pela agência de notícias EFE, Rui Falcão afirmara o seguinte: “Não vamos ceder um novo ministério para o PMDB. Agora, concessão para discutir projeto de lei, espaço em estatal, para isso estamos abertos à negociação.”
De duas, uma: ou Rui Falcão se rendeu ao cinismo ou a semântica também entrou em crise. Como ninguém deseja fazer mau juízo do companheiro, fica combinado que a tese segundo a qual Dilma entrega até estatais para não ceder à chantagem é apenas uma evidência de que as palavras estão desobrigadas de fazer sentido.

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