Sandra cresceu e mora até hoje na comunidade Entrapulso, em Boa Viagem
Clemilson Campos/JC Imagem
A professora Sandra Cristina
da Silva, 36 anos, pode ser chamada de doutora a partir de amanhã.
Vencendo as adversidades de morar em um local pobre, a comunidade
Entrapulso, em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, e fazer parte de uma
família humilde, ela concluiu a educação básica, fez faculdade de
história, cursou especialização e mestrado, tudo em instituições
públicas de ensino. Amanhã, defenderá sua tese de doutorado na
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Com persistência, ela mostra
que o contexto social não é desculpa para se acomodar e mudar de vida.
Não à toa o tema que escolheu para o
doutorado foi como a educação proporcionou a emancipação da mulher.
“Concluir o doutorado é para mim uma satisfação sem precedentes. Moro em
uma comunidade pobre, mas extremamente diversa. Algumas vezes sofri
discriminação, pois muitas pessoas julgam os outros pelo lugar em que
moram, pelo saldo da conta bancária, pela roupa que vestem e não pela
essência. Valorizam o ter em detrimento do ser”, ressalta Sandra, que
nos fins de semana estudava com protetores de ouvido para não escutar o
som alto das casas vizinhas.
Trabalhando desde os 14 anos, quando
estava no último ano do ensino fundamental, Sandra tinha que conciliar a
rotina de labuta diária com a escola. “Foi meu maior desafio.
Trabalhava durante o dia, numa escola longe de casa, e estudava à noite.
Sou a caçula de quatro irmãos e fui a primeira da família a cursar
universidade. Passei no vestibular na terceira tentativa. Meus pais,
apesar da pouca instrução que receberam, nunca mediram esforços para que
estudássemos. E cobravam isso de nós. Desde pequena, sempre fui
obstinada e dizia que iria ‘fazer faculdade’”, conta a professora de
história, que leciona na rede estadual de ensino.
Sua determinação motivou os três irmãos
mais velhos a seguirem o mesmo caminho escolar. Um dos irmãos é formado
em administração e o outro em direito, ambos cursados em faculdades
privadas, pagas com bolsas. A única irmã vai concluir pedagogia ano que
vem na UFPE. “Minha mãe era empregada doméstica e meu pai, fotógrafo.
Uns oito anos atrás consegui bancar a casa e fazer com que ela parasse
de trabalhar fora e se dedicasse apenas a fazer artesanato, coisa de que
mais gosta”, explica Sandra. O pai está aposentado e é separado da mãe
dela, mas sempre foi um grande incentivador da caçula.
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