Na
semana passada, um senhor de 78 anos dava entrada num hospital de Rio
Branco, no Acre, vítima de atropelamento. O acidente poderia ser apenas
mais um na desordenada cidade da Amazônia se o paciente com a bacia
fraturada não fosse uma figura conhecida da história da devastação da
floresta, o fazendeiro Darly Alves da Silva, condenado por mandar matar o
líder seringueiro Chico Mendes.
Darly,
no leito 119 do hospital, logo após uma cirurgia, disse que o processo
do assassinato ocorrido há 25 anos foi uma experiência 'dolorosa'.
'Crime nenhum compensa', disse ele ao Estado no domingo. 'Não desejo que
ninguém sente na cadeira de réu para ouvir um processo.'
A
entrevista ocorreu numa situação peculiar. Um filho dele acompanhou com
irritação a conversa. O clima se tornava mais tenso nos momentos em que
o fazendeiro falava do crime. Darly, no entanto, queria falar. Magro e
voz firme, ele está lúcido. 'Não era para eu ter morrido?', perguntou,
referindo-se ao atropelamento. 'Sempre foi assim: eu caio e levanto,
consigo sobreviver.'
(O Estado de S.Paulo - Leonencio Nossa)
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