Partiu do maior líder da Igreja
Católica, o papa Francisco, a orientação de que “envolver-se na política
é uma obrigação de todo cristão” e coube às congregações religiosas no
Brasil munirem seus seguidores de material para levar a cabo a missão de
se preparar para irem às urnas em outubro. Muito além de temas
espirituais, as cartilhas e vídeos educativos produzidos pela
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Núcleo de Estudos
Sociopolíticos (Nesp) da PUC Minas dão um panorama das mazelas que
precisam ser solucionadas pelos políticos eleitos, pedem aos cristãos
que votem em quem tem ficha limpa e que fiscalizem a atuação dos seus
escolhidos depois do pleito.
Os clérigos fazem uma reflexão sobre as
manifestações de junho do ano passado e apontam a má qualidade dos
serviços públicos, especialmente no transporte, saúde e educação como os
principais problemas a serem resolvidos. “Destaca-se no discurso das
ruas a insatisfação com a maneira como os políticos eleitos vêm
exercendo o poder distanciados das necessidades da população, fazendo da
política um balcão de negócios onde se barganham bens da coletividade
como se fossem particulares”, prega a CNBB.
A temática parte do documento da CNBB
“Pensando o Brasil – Desafios diante das eleições de 2014”, aprovado em
conferência geral dos bispos em maio deste ano, que traz 29 pontos.
Entre eles, a Igreja coloca o financiamento privado das campanhas
eleitorais como principal fonte de corrupção dos eleitos. Por isso, a
orientação aos cristãos é ver quem está financiando o candidato antes de
votar nele. “Não é raro que o candidato eleito já chegue ao poder refém
de negociatas que o levam a agir apenas em consonância com os
interesses de quem o financiou.”
O cidadão é chamado a ser parte ativa na
vida política do país. O primeiro ponto é “julgar” uma realidade em
que, de acordo com a cartilha da Igreja, houve avanços, como o fato de
nos últimos 10 anos 28 milhões de brasileiros terem saído da pobreza,
mas também há desafios, como a redução dos gastos com a dívida pública e
a diminuição da desigualdade social e violência. Nenhuma instância de
governo é citada como responsável pelo quadro. Os eleitores são chamados
a fazer uma significativa pesquisa na vida dos candidatos para
descobrir se pesam processos ou condenações contra eles.
Cidadania A Lei da Ficha Limpa,
conquistada a partir de uma grande mobilização popular que teve como um
dos pilares a ação da Igreja, é um dos pontos fortes das cartilhas, que
colocam a legislação como possibilidade efetiva de renovação dos
políticos “acostumados a usar cargos eletivos como profissão e a se
beneficiarem do exercício de suas funções para proveito próprio e não
como serviço público”. Com este gancho, eles são chamados também a
conhecer e chancelar o projeto de reforma política defendido pela CNBB e
o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE).
“Há muitos anos existem na Igreja os
grupos de fé e política trabalhando nessa perspectiva de inserção na
política como formação para a cidadania. O recado é que não adianta os
cristãos pensarem que o Brasil vai se transformar por intervenção
divina. O país se transforma pela ação concreta dos cidadãos no
cotidiano”, explica o coordenador do grupo gestor do Nesp/PUC-Minas,
Robson Sávio. Neste sentido, ele destaca como um dos pontos das
cartilhas a instrução aos fiéis de que não basta estar de olho na
corrupção dos políticos. Segundo os bispos, é preciso lutar contra as
pequenas corrupções do dia a dia, como furar filas de banco ou tentar
subornar policiais para se livrar de multas de trânsito.
Os católicos são orientados a participar
da vida política do país mesmo depois das eleições, fortalecendo e
integrando associações de bairro, sindicatos e partidos. Mesmo com toda
essa tentativa de introduzir os fiéis na política, os bispos mantêm a
orientação aos padres, diáconos e bispos de não se candidatem a cargos
eletivos. As cartilhas estão sendo vendidas a um preço simbólico de R$
1,50 para as paróquias, que distribuem o material gratuitamente aos
fiéis. (Diário de Pernambuco)
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