O
Cantor e compositor pernambucano, Alceu Valença, publicou um texto em
sua página no Facebook, em homenagem a Ariano Suassuna. No texto, Alceu
fala sobre os primeiros contatos com a obra de Ariano, o Movimento
Armorial, aula-espetáculo e O Auto da Compadecida.
Confira o texto na íntegra:
"Comecei
a me interessar por literatura na adolescência. Meus mentores foram
meus tios Livio, que me apresentou Fernando Pessoa, e Geraldo, que me
falou pela primeira vez de Ariano Suassuna. Quando ingressei na
faculdade, passei a frequentar o Teatro Popular do Nordeste, do qual ele
foi um dos fundadores ao lado de Leda Alves e Hermilo Borba Filho.
Assisti às gargalhadas O santo e a porca, entre outras peças do autor
paraibano. Ali descobri que o regional podia ser universal. Do figurino à
interpretação dos atores, tudo representava o sertão profundo num
contexto abrangente e contemporâneo. Seus tipos, suas histórias, seus
cantadores remetiam a Taperoá dele e a minha São Bento do Una, ambas
povoadas por aboiadores, cordelistas, violeiros, loucos sonhadores e
contadores de histórias. Era o surrealismo ibérico, brasileiro e
nordestino in natura.
Posteriormente,
Ariano criou o Movimento Armorial, que parte das mesmas premissas - o
regional como universal, e que reivindicava o direito de vilas, cidades e
aldeias se expressarem sem a obrigatoriedade de ser hollywoodiano ou
anglófono. Como ele mesmo gostava de dizer, não troco meu oxente pelo OK
de ninguém. Ariano jamais sofreu do complexo de cachorro vira-latas que
parte da nossa intelectualidade comunga. Anos depois, homenageei um de
seus personagens mais queridos, João Grilo, o anti-herói de O auto da
Compadecida, em minha música Que grilo dá: 'Me chamam cobra cascavel /
Sou João Grilo, menino traquino que grilo que dá / Cancão de Fogo,
Viramundo, Malasarte / Sou o riso e o desastre do meu Brasil popular'.
Três
dias antes de ele ser hospitalizado, pesquisando na internet, o acaso
me levou a encontrar o link com um trecho de uma aula-espetáculo
ministrada por ele e o compartilhei no Facebook. A repercussão foi
incrível. Comentários e mais comentários em saudação reverente ao
mestre. Meu filho Rafael, de 13 anos, e seu colega de escola, Alexandre
Carneiro, ficaram encantados e, assim como eu, se tornaram seus fãs. Sua
obra não tem idade e segue na embolada do tempo: 'o tempo em si, não
tem fim não tem começo, mesmo virado ao avesso não se pode mensurar'.
Ariano é eterno em sua irreverência, profundidade, sabedoria e
universalidade."(Alceu Valença)
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