Reféns
da Seca, meu quarto livro, que lanço, hoje, às 19 horas, nos jardins da
Academia Pernambucana de Letras, é uma singela contribuição para
reacender o debate sobre a maior estiagem dos últimos 50 anos, que já
dura praticamente três anos.
Estamos
diante de uma seca diferenciada, na qual o homem, embora sofrendo
muito, vai escapando, graças aos programas de distribuição de renda,
especialmente o Bolsa-Família. Não vimos, ao contrário das grandes secas
do passado, saques ao comércio e invasões às feiras livres.
A
face mais aguda se reflete na pecuária bovina. No Nordeste, 29 milhões
de cabeças de gado não resistiram à fome por falta de pasto. Pernambuco,
especialmente, perdeu metade do seu rebanho, algo em torno de dois
milhões de reses.
Água para o consumo humano rareia. A capacidade hídrica do Nordeste foi reduzida em 70%. Barragens e grandes açudes secaram.
Construída
há 38 anos, a barragem de Brotas, em Afogados da Ingazeira, com
capacidade para 26 milhões de metros cúbicos de água, secou,
literalmente. Para não deixar o Pajeú em colapso, o Governo recorreu a
uma adutora puxando água do lago de Itaparica.
As
obras da Transposição do São Francisco se arrastam e os poucos trechos
concluídos apresentam sua estrutura rachada, precisando de reparação
urgente. Isso tem feito o custo triplicar. Orçada inicialmente em R$ 4
bilhões, a mega obra está prevista para sair a um custo final de R$ 12
bilhões.
Meu
livro, resultado de uma peregrinação aos sertões euclidianos,
alcançando 7,2 km, põe o dedo nessa ferida, mostrando também o exemplo
da China, praticamente com a sua transposição pronta.
Embora
países com mais adversidades tenham encontrado a fórmula de se conviver
bem com o problema, a exemplo de Israel, onde se produz no deserto, o
Brasil continua tratando a seca com os mesmos remédios paliativos,
porque não há interesse em acabar com a famigerada indústria da seca.
(Do blog Magno Martins)
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