Médico cubano, negro, que chegou para atender onde os brasileiros não querem |
É com profunda vergonha
que se vê a postura de alguns médicos brasileiros nesses dias de
chegada dos estrangeiros para o programa Mais Médicos. Se deram ao
trabalho de ir a aeroportos vaiar os colegas que aqui chegam para ir
onde ninguém vai, mas não vaiam aqueles que usam dedos de silicone
nos postos de saúde ou os que batem o ponto e vão para seus
consultórios chiques atender a elite ao tempo que recebem do Estado
sem trabalhar.
Para os “siliconados”
vale a máxima – que tem sua razão – de que se paga mal ou falta
estrutura. Mas esquecem que também há postos e hospitais com
equipamentos e falta de profissionais para colocá-los a funcionar.
Os médicos brasileiros, a cada dia, mostram a vergonha do
corporativismo doentio. Mostram que, ao contrário do que querem a
todo custo nos fazer pensar, nunca cursaram medicina para ajudar as
pessoas, apenas para ter status e riqueza. E uma certa dose de poder
político, por que não?
É sabido até pelos
pardais urbanos que vivem equilibrado nas fiações elétricas das
cidades que os médicos exercem certa influência política em seus
pacientes. Tanto que até ameaçar Dilma Rousseff de “receber o
troco em 2014” já o fizeram. Sem contar com colocações do tipo
“espero que quem apoia a vinda dos cubanos um dia precise de um
médico e apareça onde eu atendo”. Além de corporativistas e
elitistas, são chantagistas. Vergonha é a melhor palavra para
definir boa parte dos médicos brasileiros.
Os que aqui chegam estão
obrigados a atender onde os médicos locais não querem. O governo
federal jamais os obrigou a ir aos rincões do Brasil. Jamais os
obrigou a realizar atenção básica. Ir de casa em casa, conversar
com as pessoas, orientá-las a melhorar sua qualidade de vida, mesmo
diante de localidades com problemas estruturais que também fazem
vergonha.
A soberba ao afirmar que
tais médicos – principalmente os cubanos – são incapazes é
algo que dói em qualquer pessoa intelectualmente honesta. 107 países
recebem ou receberam profissionais de saúde da ilha caribenha. É
prática comum ao redor do planeta a importação de médicos. Mas
aqui os nossos não aceitam essa premissa. Simulam até preocupação
com direitos trabalhistas. Se tivessem alguma preocupação além do
status e riqueza, vaiariam – como dito acima – seus colegas que
fraudam o erário e não aqueles que chegam para atender os mais
pobres.
Esses que vaiam os
cubanos não vão às ruas protestar contra médicos estupradores
como Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de cadeia por violentar
37 mulheres. Não vão às ruas reclamar da postura dos planos de
saúde que negam inscrição a idosos ou quem eles julgam com alto
risco de uso dos serviços que afirmam oferecer. Não dão um pio
sobre os inúmeros tratamentos que não são cobertos e só
descobertos nos corredores dos hospitais. Se quer se indignam com
colegas que vão a restaurantes com seus jalecos os entupindo de
bactérias e ajudam a adoecer ainda mais os doentes. Tudo para andar
nas ruas e as pessoas verem que ali está um médico.
Talvez parte do devaneio
psicológico, da mania de grandeza que alguns exalam pelos poros se
dê pelo título de doutor, mesmo mal terminado sua graduação.
Termo aliás, imposto às pessoas por dom Pedro II a médicos e
advogados. Esses profissionais devem ser tratados por esse pronome.
Mais um absurdo brasileiro tratado como natural. Doutor é quem fez
doutorado.
O comportamento desses
médicos apenas reafirma a justeza do programa federal. A elite de
branco apenas assina em baixo a intenção do governo federal de
garantir atendimento aos mais pobres. Esse é o xis da questão. E
aqueles que querem permanecer atendendo em salas com ar-condicionado
madames em seus carrões SUV que continuem a fazer. Mas não tem o
direito de impedir que os mais pobres tenham atendimento médico.
Vergonha. Essa palavra de
oito letras é o que se sente ao ver a reação daqueles que juram de
pés juntos dedicar a vida a salvar vidas, mas vaiam aqueles que
estão em solo brasileiro para fazer o que eles dizem que fazem, mas
ninguém vê.
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