De
dinheiro novo, a presidente Dilma anunciou, ontem, em Fortaleza, R$ 9,
043 bilhões para reforçar as medidas de combate à seca. A princípio, o
valor impressiona, mas quando dissecado vira quase um castelo de areia.
Em
termos de investimentos, pode se subtrair de imediato R$ 3,147 bilhões
referentes a dívidas renegociadas e não perdoadas, como queriam os
governadores. Mais R$ 2,1 bilhões são de equipamentos agrícolas,
máquinas destinadas aos municípios.
São
importantes, são! Mas, na realidade, essas máquinas são produzidas no
Rio Grande do Sul, deixando assim a riqueza gerada dos impostos por lá.
Quando
entregues aos municípios, os equipamentos – retroescavadeiras,
motoniveladoras, caminhões-caçambas, caminhões pipas e pás-carregadeiras
– geram mais despesas e muitos municípios não podem manter, porque
falta dinheiro até para o combustível.
Além
disso, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, que é do Rio
do Grande do Sul e esteve presente ao encontro, disse aos prefeitos que
a totalidade das máquinas só sai das fábricas no final do ano, entre
novembro e dezembro.
De
que adiantará mais? Do “dinheirão” de Dilma podem ser subtraídos ainda
R$ 277 milhões destinados a reequipar o Exército e R$ 180 milhões para
milho que não entram na conta do investimento direto nos municípios.
Nenhum
governador, portanto, terá dinheiro na conta de imediato para aumentar
parcerias com os municípios, gerar mais empregos e, consequentemente,
minimizar os efeitos da estiagem, a maior dos últimos 50 anos.
Mas
pela forma midiática das medidas a impressão que ficou e que Dilma está
de fato preocupada e envolvida com a temática da seca no Nordeste.
Não
é verdade. O Governo chega atrasado. Há municípios em que não há mais
água sequer para o consumo humano e o rebanho bovino está sendo
dizimado.
Pernambuco,
por exemplo, já perdeu metade das suas 2,1 milhões de cabeças de gado.
Se a União realmente tivesse priorizado a seca, essa tragédia,
certamente, poderia ter sido evitada.
SEM VEZ E SEM VOZ–
Para os municípios, a reunião de Fortaleza foi uma tremenda frustração.
Na prática, os prefeitos só ganharam mais um carro-pipa e uma
pá-escavadeira. Presidente da Amupe, o prefeito de Afogados da
Ingazeira, José Patriota (PSB), não teve direito a fala, mas levou o
inconformismo da Federação Nacional dos Municípios, entidade que
representou, a própria presidente Dilma, tão logo acabou o encontro, e
ao ministro da Integração, Fernando Bezerra.
Riso maroto - Não
se trata de fazer intriga, mas na hora em que o governador Eduardo
Campos discursou na reunião da Sudene, ontem, em Fortaleza, a presidente
Dilma ficou boa parte do tempo cochichando ao ouvido do governador
cearense Cid Gomes, chegando a gargalhar. De que riam?
Pegou mal - O
ministro Fernando Bezerra ficou mal na foto. Há 10 dias, num encontro
com prefeitos na Amupe, ele acenou com a possibilidade dos municípios
afetados pela seca usarem o cartão da Defesa Civil para compra de ração,
recuperação de açudes e pagamentos de pipas. Mas, estranhamente, o
pleito não entrou na pauta com Dilma, porque criaria um mecanismo de
fundo a fundo, igual ao que Eduardo anunciou no encontro com prefeitos
em Gravatá.
Nem aí - Mais
uma vez, os governadores de Minas e Espírito Santo, mesmo com assento
na Sudene, faltaram, ontem, à reunião do conselho da instituição. O
engraçado é que, na véspera, ambos haviam confirmado, até porque a
presidente Dilma estaria presente. O do Espírito Santo sequer mandou
representante.
Bola cheia - Na
presença dos governadores do Nordeste, a presidente Dilma deu, ontem,
mais uma demonstração pública de que o prestígio do ministro Fernando
Bezerra anda em alta no Planalto. Na sua fala preliminar, Dilma citou o
nome do ministro por quatro vezes e deu todo o tempo que ele quis para
detalhar as medidas anunciadas de combate à seca.
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