Rodovia de 77 quilômetros passaria por fora do Recife e desafogaria BR-101
Foto: Bernardo Soares/Acervo JC Imagem
O Arco Viário custaria R$
1,21 bilhão e teria obras iniciadas este mês. A rodovia de 77
quilômetros para ligar a BR-101 norte e sul por fora do Recife é tão
importante que só a promessa de sua construção levou todo o polo
automotivo da Fiat para Goiana, na Mata Norte. O esperado novo contorno
da área metropolitana induziu investimentos imobiliários e animou gente
esquecida na euforia econômica do Estado. Mas o mês que teria o início
das obras virou marco do esquecimento. Há seis meses, governo estadual e
federal evitam o assunto. Empresários e executivos que acreditaram no
Arco já cobram publicamente o projeto, enquanto a população pede saída
para o caos crescente da BR. A nova rodovia seria a esperada solução.
Um dos grandes nós da rodovia, a cidade
de Abreu e Lima tem na BR-101 o centro da cidade, com igreja, lotérica,
farmácia e até prefeitura na calçada. A confusão de bicicletas, gente,
carros e animais se mistura às cargas de portos e indústrias. “É
engarrafamento, acidente. E piorando mais”, conta o agricultor Adilson
Mendonça, 47 anos.
Também chamada de Arco Metropolitano, a
rodovia tem vários objetivos: aproximar os polos industriais norte,
oeste e sul do Grande Recife e absorver o tráfego pesado da BR-101, na
linha dos projetos de cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo
Horizonte. “Sou do Paraná. Lá o governo fez a ‘Suape de Curitiba’ no
equivalente do Arco, o Anel de Integração”, diz Luiz Henrique Romani,
economista da Fundação Joaquim Nabuco. “As mudanças impressionam: mais
qualidade de vida para a população, melhor logística para indústrias e
menos acidentes”, conta.
O Arco também vai integrar áreas
isoladas, como Araçoiaba, que em pleno Grande Recife, é a mais miserável
do Nordeste, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). “Aqui você corta cana ou é gari”, diz Gisele Silva, 21 anos.
Estudante de curso técnico, ela sonha cursar psicologia no Recife,
distante três ônibus na ida, três na volta. O Arco aproximaria Araçoiaba
dos polos, como Suape. Sem renda ou emprego, Gisele e os amigos,
membros de uma banda marcial, param carros no acesso à cidade para
tentar arrecadar R$ 350 e tocar em Carpina. “Fomos chamados para
encontros de bandas lá e em Campina Grande. Se ir para Carpina é caro,
imagina Paraíba”, diz.
O Arco era cogitado há anos. Em junho de
2011 o governador Eduardo Campos (PSB) anunciou que a obra seria
estudada como Parceria Público-Privada pelo consórcio Odebrecht
Transport, Invepar e Queiroz Galvão. Após muita espera, em janeiro
passado o Estado decretou a desapropriação de 868 hectares para o Arco,
uma vez e meia o Bairro de Boa Viagem, no Recife. Na véspera da primeira
audiência pública do licenciamento, no dia 25 daquele mês, veio a
cobrança emblemática.
“O Arco não pode demorar. Tem que
acontecer”, disse, na ocasião, o presidente da Fiat no Brasil,
Cledorvino Belini. A cobrança tem motivo. O Arco convenceu a Fiat a
produzir em Goiana 250 mil carros por ano, um polo de 15 fábricas, 12
mil trabalhadores e um fluxo de 2 mil veículos por dia. Imagine as
carretas, caminhões, carros e cegonhas indo e voltando entre Goiana e
Suape sem o Arco.
O “pito” de Belini fez o Estado anunciar
o Arco para este mês, com a primeira etapa pronta em 2014. Parecia que
tudo ia decolar, até que em 25 de março a presidente Dilma Rousseff (PT)
veio a Pernambuco, terra do provável rival nas urnas, Eduardo, e sua
equipe anunciou que a União faria a obra. Desde então, as versões são
desencontradas.
A cobrança continua. Na próxima quarta,
por exemplo, haverá uma audiência sobre o novo bairro planejado de
Ipojuca, Litoral Sul. O Engenho Trapiche, da Cyrela e Queiroz Galvão,
custará R$ 3 bilhões e terá uma população de 78 mil pessoas, mais
pressão na BR-101 e PE-60. “O Arco é importante para a Fiat e outros
investimentos”, diz o presidente da Associação das Empresas do Mercado
Imobiliário, Eduardo Moura. “Acho que a obra sai. Mas desde que ela foi
para Brasília, fiquei com a pulga atrás da orelha”, diz Moura.
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