‘A
aliança com Marina é a primeira resposta à crise de representatividade
que o País está vivendo'. Quem diz já com a segurança de candidato
formal a presidente de República é o governador de Pernambuco, Eduardo
Campos(PSB), em longa entrevista à revisa ISTOÉ, que
reproduzimos abaixo. Eduardo deixa um recado explícito de sua
determinação firme de brigar e vencer Dilma na eleição de outubro do
próximo ano, articulando-se a começar pelo seu Estado, o Nordeste, e
demais regiões do País.
''Vamos
andar juntos pelo Brasil, eu e Marina. Vamos ter o apoio desse
maravilhoso mundo da internet, participar de fóruns e atividades País
afora. Os espaços vão surgindo naturalmente, é um processo em
construção. Não pode ser um processo ansioso, mas tranquilo, como
estamos. Quem não está tranquilo são os outros!',, diz o governador
pernambucano.
Eis a entrevista na íntegra:
''PSDB e PT já tiveram sua chance''
Candidato
do PSB ao Planalto, Eduardo Campos recebeu a reportagem de ISTOÉ em sua
residência, situada num bairro da zona rural de Recife, onde vive com
os quatro filhos. Durante quatro horas de entrevista, o socialista falou
sobre seus projetos
Claudio Dantas Sequeira e Adriano Machado (fotos) - enviados especiais a Recife
À s 10h14, da
quarta-feira 9, a reportagem de ISTOÉ chegou à residência do governador
de Pernambuco, Eduardo Campos, para uma entrevista exclusiva. Desde que
decidiu reformar o Palácio das Princesas, sede do governo, Campos se
divide entre o gabinete provisório, instalado num centro de convenções, e
sua casa – que, na verdade, pertence à família de sua mulher, Renata,
há 40 anos. É lá que ele vive com os quatro filhos e os sogros.
Localizada num bairro da zona rural de Recife, a residência é decorada
por uma grande variedade de obras de artesanato regional. A preferida de
Campos é uma imagem de São Francisco em tamanho natural. “A política
brasileira tem que entrar na era do Papa Francisco”, diz o candidato do
PSB à Presidência da República. “E não adianta quererem me colocar
contra a Marina”, brinca, referindo-se à nova aliada, que é evangélica
fervorosa. A primeira-dama dá boas-vindas da varanda, em companhia da
filha Maria Eduarda, de 21 anos. Ela exibe a gravidez de Miguel, o
quinto filho do casal, que chegará ao mundo em fevereiro. Eduardo Campos
despacha com um de seus secretários na mesa da sala, e o pequeno José
Henrique, de 8 anos, corre de um lado a outro com o smartphone do pai.
Os outros dois filhos, João (19) e Pedro (17), estavam fora, estudando.
“Tem político que gosta de criar bois. Outros preferem cavalos. Eu gosto
de criar gente.”
ISTOÉ – Por que o sr. acredita que pode ser um bom presidente?
Eduardo Campos – Porque somos capazes de mudar a qualidade da política no País. A política se degradou. Vivemos uma encruzilhada. Não podemos colocar em risco o que acumulamos nas últimas três décadas, especialmente em termos de democracia, estabilidade econômica e inclusão social. Quero resgatar o bom debate, a utopia, a leveza e o respeito da sociedade. Representamos milhões de brasileiros que acreditam em democracia, que é possível um padrão sustentável de desenvolvimento econômico, que é preciso aumentar a participação da sociedade na governança pública. Minha aliança com Marina é a primeira resposta à crise de representatividade que o País está vivendo. O PSDB e o PT já tiveram sua chance de liderar o processo político. Agora é a nossa vez.
Eduardo Campos – Porque somos capazes de mudar a qualidade da política no País. A política se degradou. Vivemos uma encruzilhada. Não podemos colocar em risco o que acumulamos nas últimas três décadas, especialmente em termos de democracia, estabilidade econômica e inclusão social. Quero resgatar o bom debate, a utopia, a leveza e o respeito da sociedade. Representamos milhões de brasileiros que acreditam em democracia, que é possível um padrão sustentável de desenvolvimento econômico, que é preciso aumentar a participação da sociedade na governança pública. Minha aliança com Marina é a primeira resposta à crise de representatividade que o País está vivendo. O PSDB e o PT já tiveram sua chance de liderar o processo político. Agora é a nossa vez.
ISTOÉ – O sr. acredita mesmo em possibilidade de retrocesso nas conquistas sociais?
Campos – Enquanto a nova agenda for negligenciada, sim. As pessoas não têm acesso a serviços públicos de qualidade. Quem passa quatro horas num ônibus, quem espera oito meses para fazer um exame, com risco até de perder a vida pela demora no atendimento, quer mudança. As respostas para essas questões não serão dadas com velhas práticas políticas.
Campos – Enquanto a nova agenda for negligenciada, sim. As pessoas não têm acesso a serviços públicos de qualidade. Quem passa quatro horas num ônibus, quem espera oito meses para fazer um exame, com risco até de perder a vida pela demora no atendimento, quer mudança. As respostas para essas questões não serão dadas com velhas práticas políticas.
ISTOÉ – O que são as velhas práticas?
Campos – Achar que basta juntar uns partidos para ter tempo de TV, contratar um bom marqueteiro e depois contar os parlamentares, distribuir ministérios entre partidos, sem discutir conteúdo de nada. O que está posto na sociedade? Quer ter uma telefonia decente, transporte público de qualidade, energia sustentável para iniciarmos um novo ciclo de crescimento. Quem entendeu o que aconteceu nas ruas em junho entende a aliança que estamos fazendo agora e a pauta que estamos colocando.
Campos – Achar que basta juntar uns partidos para ter tempo de TV, contratar um bom marqueteiro e depois contar os parlamentares, distribuir ministérios entre partidos, sem discutir conteúdo de nada. O que está posto na sociedade? Quer ter uma telefonia decente, transporte público de qualidade, energia sustentável para iniciarmos um novo ciclo de crescimento. Quem entendeu o que aconteceu nas ruas em junho entende a aliança que estamos fazendo agora e a pauta que estamos colocando.
ISTOÉ – Essas questões são antigas e ninguém mudou.
Campos – São questões que estão postas há duas décadas, ao menos. É o que ocorre, por exemplo, com as reformas política e tributária. O presidente Lula tentou fazer. Só que político pensa no imediato e, se aquilo vai prejudicá-lo, ele não apoia. A saída é propor reformas escalonadas, com previsão de entrar em vigor em oito, 12 ou 16 anos. Na reforma política, por exemplo, poderíamos terminar, de saída, com a coligação proporcional, com a cláusula de barreira e a coincidência de mandatos. Isso já dá uma primeira arrumada.
Campos – São questões que estão postas há duas décadas, ao menos. É o que ocorre, por exemplo, com as reformas política e tributária. O presidente Lula tentou fazer. Só que político pensa no imediato e, se aquilo vai prejudicá-lo, ele não apoia. A saída é propor reformas escalonadas, com previsão de entrar em vigor em oito, 12 ou 16 anos. Na reforma política, por exemplo, poderíamos terminar, de saída, com a coligação proporcional, com a cláusula de barreira e a coincidência de mandatos. Isso já dá uma primeira arrumada.
ISTOÉ – Se Lula não fez as reformas com a popularidade e a base de apoio que tinha, por que o sr. acha que conseguirá?
Campos – Porque o Brasil que sairá das urnas em 2014 será outro. Foi por isso que alguns setores tentaram reduzir as chances de debate, polarizando a disputa. Em 2014 teremos uma eleição de posturas. Precisamos usar mais mecanismos de democracia direta, usar o potencial de 108 milhões de brasileiros com smartphones ligados à internet. Os governos precisam ser digitais. Com isso, dá para governar com uma base menor, mas que tenha qualidade.
Campos – Porque o Brasil que sairá das urnas em 2014 será outro. Foi por isso que alguns setores tentaram reduzir as chances de debate, polarizando a disputa. Em 2014 teremos uma eleição de posturas. Precisamos usar mais mecanismos de democracia direta, usar o potencial de 108 milhões de brasileiros com smartphones ligados à internet. Os governos precisam ser digitais. Com isso, dá para governar com uma base menor, mas que tenha qualidade.
ISTOÉ – Não é um sonho governar com uma base menor?
Campos – É preciso testar. Não dá para ficar alimentando um ciclo que não está sendo bom para a política brasileira. Estamos há dois anos lutando contra essa inflação renitente, empurrando para cima da meta prudencial. Tem muita gente que subiu degraus, deu entrada na casa própria, comprou máquina de lavar, televisão de tela plana, assumiu vários compromissos financeiros. Se a economia não melhorar, essas pessoas podem ser obrigadas a descer esses degraus.
Campos – É preciso testar. Não dá para ficar alimentando um ciclo que não está sendo bom para a política brasileira. Estamos há dois anos lutando contra essa inflação renitente, empurrando para cima da meta prudencial. Tem muita gente que subiu degraus, deu entrada na casa própria, comprou máquina de lavar, televisão de tela plana, assumiu vários compromissos financeiros. Se a economia não melhorar, essas pessoas podem ser obrigadas a descer esses degraus.
ISTOÉ – E o que o sr. fará para melhorar a economia?
Campos – A tarefa de conter a inflação não é só taxa de juros. É preciso encarar a economia como você enfrenta outros problemas. No caso da segurança pública, o que você faz? Não é só colocar polícia na rua, tem que ter escola, assistência social, uma Justiça mais ágil, combater a impunidade. Na economia, é fundamental compatibilizar a política fiscal com a monetária, e passar segurança aos agentes econômicos.
Campos – A tarefa de conter a inflação não é só taxa de juros. É preciso encarar a economia como você enfrenta outros problemas. No caso da segurança pública, o que você faz? Não é só colocar polícia na rua, tem que ter escola, assistência social, uma Justiça mais ágil, combater a impunidade. Na economia, é fundamental compatibilizar a política fiscal com a monetária, e passar segurança aos agentes econômicos.
ISTOÉ – Como passar essa segurança? Qual é o seu plano econômico?
Campos – Não quero antecipar um debate que estou começando. Mas o País precisa de um rumo estratégico, como o que Lula fez na “Carta aos Brasileiros”, em 2002. A eleição dele gerou na ocasião mais ansiedade no mercado, mais sobressaltos, que qualquer outra crise, levando o dólar na casa dos R$ 4. Há hoje uma crise de confiança que precisa ser neutralizada. Tem que fazer o dever de casa, alavancar os investimentos, combater a corrupção, implementar uma gestão pública mais eficiente, baseada na transparência, no controle social e na meritocracia, e não no apadrinhamento. Eu fiz isso em Pernambuco. Todos concordam que é preciso reduzir o número de ministérios. É uma questão simbólica.
Campos – Não quero antecipar um debate que estou começando. Mas o País precisa de um rumo estratégico, como o que Lula fez na “Carta aos Brasileiros”, em 2002. A eleição dele gerou na ocasião mais ansiedade no mercado, mais sobressaltos, que qualquer outra crise, levando o dólar na casa dos R$ 4. Há hoje uma crise de confiança que precisa ser neutralizada. Tem que fazer o dever de casa, alavancar os investimentos, combater a corrupção, implementar uma gestão pública mais eficiente, baseada na transparência, no controle social e na meritocracia, e não no apadrinhamento. Eu fiz isso em Pernambuco. Todos concordam que é preciso reduzir o número de ministérios. É uma questão simbólica.
ISTOÉ – O sr. vai se apresentar como uma terceira via?
Campos – Não é uma terceira via, mas é “a via”. Não gosto do clichê de terceira, porque parece que há uma primeira e uma segunda. Não quero ser a contestação da contestação, quero ser o caminho para melhorar a vida das pessoas.
Campos – Não é uma terceira via, mas é “a via”. Não gosto do clichê de terceira, porque parece que há uma primeira e uma segunda. Não quero ser a contestação da contestação, quero ser o caminho para melhorar a vida das pessoas.
ISTOÉ
– Apesar do desempenho como governador, o candidato Eduardo Campos
ainda é desconhecido dos brasileiros. Como pretende mudar isso?
Campos – É verdade que o Brasil ainda não me conhece. Mas não fiz até agora nenhum esforço sistemático para mudar isso. Recentemente, temos falado na TV, mas apenas dez minutos a cada seis meses.
Campos – É verdade que o Brasil ainda não me conhece. Mas não fiz até agora nenhum esforço sistemático para mudar isso. Recentemente, temos falado na TV, mas apenas dez minutos a cada seis meses.
ISTOÉ – E como virar o jogo?
Campos – Vamos andar juntos pelo Brasil, eu e Marina. Vamos ter o apoio desse maravilhoso mundo da internet, participar de fóruns e atividades País afora. Os espaços vão surgindo naturalmente, é um processo em construção. Não pode ser um processo ansioso, mas tranquilo, como estamos. Quem não está tranquilo são os outros!
Campos – Vamos andar juntos pelo Brasil, eu e Marina. Vamos ter o apoio desse maravilhoso mundo da internet, participar de fóruns e atividades País afora. Os espaços vão surgindo naturalmente, é um processo em construção. Não pode ser um processo ansioso, mas tranquilo, como estamos. Quem não está tranquilo são os outros!
ISTOÉ – Qual é a estratégia de sua campanha?
Campos – Vamos correr o País. Estamos fechando uma agenda de debates e atividades, de agitação de ideias e participação em eventos públicos. Nos próximos dias já vamos começar a aparecer juntos. Haverá também atividades internas direcionadas à militância do PSB e da Rede, que devem estar coesas. Queremos o apoio de personalidades e de diversos setores da sociedade civil. Mostrar que temos um campo que inclui outras lideranças políticas, como Luiza Erundina, Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos. A campanha será a expressão política do desejo de mudanças que alimenta protestos e manifestações País afora. Podemos expressar esses valores que estão sendo reclamados na vida pública em torno de ideais que vão juntar as pessoas.
Campos – Vamos correr o País. Estamos fechando uma agenda de debates e atividades, de agitação de ideias e participação em eventos públicos. Nos próximos dias já vamos começar a aparecer juntos. Haverá também atividades internas direcionadas à militância do PSB e da Rede, que devem estar coesas. Queremos o apoio de personalidades e de diversos setores da sociedade civil. Mostrar que temos um campo que inclui outras lideranças políticas, como Luiza Erundina, Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos. A campanha será a expressão política do desejo de mudanças que alimenta protestos e manifestações País afora. Podemos expressar esses valores que estão sendo reclamados na vida pública em torno de ideais que vão juntar as pessoas.
ISTOÉ – E os palanques regionais? Vocês vão cobrar fidelidade e expulsar o PT das coligações?
Campos – Não vamos expulsar ninguém. Sai quem quiser. Os Estados estão livres para fazer os arranjos necessários, desde que garantam o palanque para nossa candidatura.
ISTOÉ – Mas a Dilma também vai querer o palanque. Vocês vão dividir?
Campos – Pode ser, não vejo problema.
Campos – Não vamos expulsar ninguém. Sai quem quiser. Os Estados estão livres para fazer os arranjos necessários, desde que garantam o palanque para nossa candidatura.
ISTOÉ – Mas a Dilma também vai querer o palanque. Vocês vão dividir?
Campos – Pode ser, não vejo problema.
ISTOÉ – A Marina vai ajudar a projetar sua imagem?
Campos –
Acho que a aliança vai ajudar a difundir ideias que são novas, simples,
mas de grande impacto e com grande sinergia com as pessoas que não são
candidatas e que não são partidárias. Pessoas que militam por um Brasil
melhor. Não podemos ser encarados como ofensa, só por oferecer um
caminho alternativo. (Magno Martins)
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