28 de julho de 2012

O dilema entre a natureza e a economia: Crescer para quê mesmo?

Uma das perguntas ainda muito difíceis de se responder é certamente essa: “Crescer para quê?” Este questionamento permeou a apresentação que o economista Ricardo Abramovay fez no IV Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (IV CBJA), entre 17 e 19 de novembro de 2011 no Rio. Em sua palestra de inspiração “Desafios das Mudanças Climáticas para o Conhecimento”, o professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) desafiou a todos a pensar a inclusão da questão da “desigualdade” na construção de uma nova “economia verde”.
Para ele, esta é a chave-mestra para chegarmos ao tão propalado desenvolvimento com sustentabilidade, podendo almejar um futuro mais equilibrado em um planeta inexoravelmente finito.

Abramovay exemplifica a dicotomia na atual relação entre a sociedade e os ecossistemas, onde apenas juntar economia verde e luta contra a pobreza não nos traz os resultados sobre a “desigualdade no mundo contemporâneo”. Nem sobre a natureza! O cenário a ser enfrentado, segundo o economista, é aquele em que “um indiano que nascer hoje consumirá ao longo de sua vida o correspondente a 4 toneladas de materiais anuais. Um canadense vai consumir 25.” A redução da pobreza que já está em curso, e presente nos negócios públicos e privados nos modelos que conhecemos, não está respondendo à essa relação.
Hoje, diz Abramovay, “cada unidade de riqueza é oferecida ao mercado sobre a base do uso decrescente de materiais. Apesar desse avanço, entretanto, a extração de recursos da superfície terrestre cresceu oito vezes durante o século 20, atingindo um total de 60 bilhões de toneladas anuais, considerando-se apenas o peso físico de quatro elementos: minérios, materiais de construção, combustíveis fósseis e biomassa”. Essa lógica continua a trazer a poluição e as emissões de gases de efeito estufa, mesmo em processos teoricamente limpos de economias avançadas como Japão e Alemanha
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O economista apresentou dados de comparação. Por um lado, números otimistas, como aqueles apresentados pela OCDE, demonstram que o mundo industrial consumiu, em 2000, metade dos recursos físicos (por unidade de produto) que consumia em 1975. Já o PIB mundial, em 2002, precisou de 26% menos recursos físicos (por unidade de produto) do que em 1980. Sobre a redução da pobreza, os números também positivos mostram que a população mundial que vivia abaixo da linha da pobreza (com menos de US$ 2,75 por dia) é, desde 2008, 17% do total – 10 anos antes o contingente miserável correspondia a 30% da população mundial.

Mas…. porque, então, o mundo continua virtualmente dividido?
Para Ricardo Abramovay, não há como falarmos em “sustentabilidade” enquanto um CEO do Walmart ganhar 900 vezes mais que um trabalhador comum dessa empresa (dados de 2008). Segundo avaliação do cientista social, a despeito dos avanços em eficiência ecológica e social alcançados na sociedade moderna, “estamos indo de cabeça contra o rochedo”..

Ou seja, apesar de todos os esforços, e de toda a ciência e tecnologia, o mundo ainda vive o dilema de usar a natureza até sua exaustão… em prol de uma “sociedade do bem-estar universalizado”. A solução para a equação deve estar em uma economia compartilhada, ou seja, aquela dos bens públicos e dos bens relacionais. Um exemplo? Empresas como a Unilever já previram para até 2020 mudanças radicais no seu jeito de fazer negócios, antevendo uma nova mão da produção no capitalismo.

Do lado de cá, na hora de repensar os hábitos enraizados de consumo, e mudar mentalidades, talvez só nos reste usar de muita criatividade. Nesse caminho, será preciso buscar o reencontro das ciências naturais com as ciências sociais; da economia com a natureza; e desta com a ética. Esse reencontro está sendo “um dos maiores desafios coletivos que a humanidade já enfrentou”, 

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