17 de julho de 2012
Desaceleração na construção civil atinge mais as pequenas obras e reduz vendas
De todos os setores pesquisados pelo IBGE para calcular as vendas no varejo brasileiro - que registraram o primeiro recuo desde novembro de 2008 - o item "Materiais de Construção Civil" chamou a atenção. Teve uma queda acentuada de 11,3% em maio, alertando aos especialistas. Como o mercado interno estava aquecido, o setor de vendas não demonstrava sinais de fraqueza até a última semana.
"A construção civil vinha crescendo acima do PIB, o investimento e o financiamento estavam altos, o que significa que houve uma redução na construção residencial, que é muito preocupante", analisa o economista Fernando Sarti, diretor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O crédito imobiliário, que impulsionou os preços de imóveis nas principais capitais do Brasil, continua crescendo, mas o setor já não responde com a mesma rapidez. As queixas por atraso na entrega de empreendimentos na cidade de São Paulo aumentaram 23% em relação ao ano passado, segundo dados da Associação de Mutuários de São Paulo e Adjacências (Amspa). E as ações das principais construtores do país também estão em declínio na Bolsa de Valores de São Paulo.
As quatro gigantes do setor demonstram este tombo: Gafisa acumula queda no ano de 45,39%; a Cyrela reduziu 9,39%; a MRV caiu 4,47% e a Brookfield 4,20%. Porém, as baixas vendas de material de construção evidenciam que os maiores prejudicados pela crise são os "pequenos construtores", como denomina Antonio de Sousa Ramalho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (SINTRACON/SP).
"Cerca de 78% destas vendas de material acontece nos depósitos, que é onde os pequenos construtores, aquelas pessoas que estão querendo reformar suas casas, compram. Eles estão parando de fazer suas obras", analisa. As grandes construtoras sofrem menos com a desaceleração, afirma Ramalho, pois elas têm a capacidade de "atrasar suas obras, o que o pequeno construtor não pode, pois são mais pontuais".
Para ele, a desaceleração econômica, que reduziu as projeções de PIB (Produto Interno Bruto), é o principal motivo para os números negativos.
PAC
A aceleração das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é apontada pelos dois especialistas como uma intervenção necessária do governo para estimular o crescimento do setor. "Houve uma redução na construção civil residencial e isso deixa clara a importância de deslanchar o Minha casa Minha vida 2", analisa Sarti.
A queda nas vendas e nas construções eram esperadas pelo setor, já que a estagnação foi necessária para "acomodar a mão de obra", que estava acima da demanda, afirma o sindicalista. Ele confessa que esperava uma compensação com as obras do governo, o que ainda não viu acontecer.
"A gente achava que esta perda fosse compensada pelas obras do PAC e da Copa, mas são 50 bilhões que não estão sendo gastos. Há um engessamento por causa da crise e infelizmente isto reflete na construção civil", analisou.
Estes números reforçam a necessidade de se aumentar o investimento no país, através de políticas governamentais, opina Sarti. Só assim, "cria-se um ciclo de produção, que gera emprego, demanda, crédito e novos investimentos". A inadimplência crescente das famílias brasileiras, que atingiu 19,1%, segundo dados do Serasa Experian, divulgados na última quarta, também é citada pelo economista como fator importante na diminuição do consumo.
Emprego ainda em alta
O nível de emprego na construção civil do país desacelerou no mês de maio, gerando 17.202 mil novos cargos com carteira assinada, segundo pesquisa elaborada pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). O número de contratações mostra resultado menor que o de maio de 2011, quando foram criados 33,8 mil.
Porém, segundo Ramalho, o setor está em "período de acomodação" e como grande parte das obras está em atraso, o número de empregados não deverá diminuir a curto prazo. Ele alerta, no entanto, que os ofícios de baixa qualificação já "atingiram seu teto".
"O emprego ainda não sentiu a desaceleração, ainda há vagas para pessoas de alta qualificação. O que chegou ao seu nível foi o de baixa qualificação. Quem procura, encontra mais dificuldades", explicou.
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