1 de agosto de 2014

Virologistas dos EUA testarão vacina experimental contra Ebola em 2015

Sala de aula vazia em Monróvia, na Libéria, em 31 de julho de 2014. A epidemia de Ebola no oeste da África está sobrecarregando o sistema de saúde da região e superando os esforços de contenção.


Sala de aula vazia em Monróvia, na Libéria, em 31 de julho de 2014. A epidemia de Ebola no oeste da África está sobrecarregando o sistema de saúde da região e superando os esforços de contenção.
Virologistas americanos esperam poder testar, em breve, uma vacina experimental contra o Ebola, que, se for bem sucedida, vai imunizar até 2015 os trabalhadores de saúde, que estão na linha de fogo enquanto a África sofre a maior epidemia da doença.
As primeiras tentativas de desenvolver uma vacina contra a febre hemorrágica começaram pouco depois da descoberta da doença, em 1976, mas a falta de recursos de parte da indústria farmacêutica estancou estes esforços.
No entanto, no próximo mês, os Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos começarão a fazer testes de fase 1 em humanos de uma vacina promissora nas experiências em macacos.
"Estamos começando a discutir alguns acordos com empresas farmacêuticas para acelerar (as pesquisas)", disse Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas.
"Ela poderá estar disponível em 2015 para os trabalhadores de saúde que estão expostos a grandes riscos", acrescentou.
Enquanto isso, a epidemia de Ebola no oeste da África está sobrecarregando o sistema de saúde da região e superando os esforços de contenção.
O vírus provoca dores, febre, vômitos, diarreia e hemorragias. Desde março, matou 60% dos infectados, ou seja, 729 pessoas, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde.
- A vacina existe, mas não há mercado -
Até agora não se conseguiu convencer as companhias farmacêuticas a investir em uma vacina contra o Ebola.
"Com surtos esporádicos, que afetam normalmente um pequeno número de pessoas na África Central, não existe realmente um mercado comercial" para uma vacina contra o Ebola, escreveram Andrea Marzi e Heinz Feldmann, do instituto de virologia NIAID, em artigo científico publicado em abril.
No entanto, "há várias plataformas de vacinas prontas para testes clínicos".
Algumas destas vacinas já demonstraram ter de 80% a 90% de eficácia em testes feitos com macacos, e nenhuma teve efeitos colaterais que ameaçassem a vida dos primatas, explicou o professor da Universidade de Cambridge, Peter Walsh.
Mas o processo foi comprometido, já que os reguladores dizem não ser ético inocular em humanos hoje afetados na África vacinas que ainda não passaram por todas as fases de experimentação.
"Este argumento - de que não é ético usar vacinas sem licença - é simplesmente estapafúrdio", disse Walsh à AFP, acrescentando que o NIAID está há uma década trabalhando nesta vacina.
"O ético é tratá-los, vaciná-los (os mais de 1.300 infectados na África). É o que seria lógico. O escandaloso é que não o façamos", disse.
- Problemas logísticos -
Até mesmo se uma vacina ou um tratamento experimental fosse distribuído nos países afetados - Guiné, Libéria, Nigéria e Serra Leoa - várias perguntas precisam ser respondidas em relação à forma de proceder.
Marzi e Feldman disseram em seu artigo que os surtos de Ebola exigiriam "a vacinação e a proteção dos funcionários de saúde locais e de outros grupos com alto risco de contágio, como familiares".
Esta estratégia exige que a imunização seja de ação rápida e de fácil acesso e que as doses estejam disponíveis em grandes quantidades, fornecidas pela indústria ou pelas reservas federais.
Também há interrogações com relação a quanto uma vacina pode ser útil, explicou Herve Raoul, especialista em patógenos e pesquisador do Instituto Médico Francês de Saúde, INSERM.
"Não estou certo de que vacinar toda a população faça sentido", disse ele à AFP. "O ideal seria desenvolver um antiviral que ajude as pessoas doentes a superar a fase mais aguda da doença", acrescentou.
Mas essa medicação não existe hoje.
Enquanto isso, os especialistas só podem aconselhar medidas preventivas, como isolar os pacientes infectados, tomar precauções extremas para evitar o contato com fluidos corporais e enterrar rapidamente os mortos.
No entanto, Walsh tem a esperança de que a epidemia atual cause alguma mudança. "As coisas acontecem graças às crises", disse. "Quando acontece algo terrível, é uma oportunidade para fazer algo que em outras circunstâncias não seria politicamentepossível", acrescentou.(AFP)

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