2 de agosto de 2014

25 anos…Saudade amarga que nem Jiló


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Por José Urbano*
Para o Blog Penoticias

No dia 02 de agosto de 1989, faleceu em Recife um sertanejo, como milhares de outros filhos do sertão. Homem de cor morena, adquirida nas suas andanças desde a infância pelos caminhos de chão batido na Estrada de Canindé. Voz grave, cabelos crespos, corpo robusto, altura mediana…mãos firmes porém, diferente dos demais conterrâneos, não eram calejadas, pois, em razão do seu ofício primeiro, apresentavam uma certa maciez.

Teve pouco tempo de estudo, mas aprendeu o ofício de somar experiências com esperanças, fazer o bem sempre, se auto renovar diante das dificuldades. Era conhecido por ser homem de firmeza em suas opiniões, avesso às badalações, preferia passar longas horas em seu próprio mundo: o sertão de tonalidades cinza-verdejante, desfrutando a plenitude da harmonia com a natureza em sua forma mais primitiva…o Assum Preto e a Acauã, assim como a Asa Branca, eram suas companhias musicais favoritas, embaixo de um Juazeiro, ou sob o Luar do Sertão! Ao longo dos seus 76 anos de existência, foi um peregrino que percorreu todos os estados brasileiros, como mensageiro da esperança, mostrou ao Brasil a face multicultural do nordeste, povoado de padres e cangaceiros, feirantes e vaqueiros, emboladores e cordelistas, jangadeiros e tropeiros….e uma infinidade de personagens culturais plenamente originais.

Na pia batismal, recebeu nome de santo, e foi devoto de Padre Cícero, o mais popular do nordeste! Sonhou em ser cangaceiro, mas sua alma poética não se dava à violência, nem sua arma profissional fazia qualquer dano, ao contrário, expelia poesias em forma de acordes musicais. Um acidente passado comprometeu um dos olhos, mas com o saudável, enxergava longe, principalmente as necessidades de sua gente. Sem alardes, tornou-se o líder do seu povo, pediu e conquistou vários benefícios para seus conterrâneos. Desprovido de vaidades, alpercatas de couro, chapéu e gibão eram seu figurino predileto.

Uns poucos criticaram seu trabalho, milhões o reverenciam e desconhecem o efeito de uma ausência de 25 anos. De sua terra saiu como um anônimo sonhador, para ela voltou condecorado com as mais altas homenagens. O menino virou rei, e seus súditos consolam a própria alma no aconchego de um colo materno em uma tarde do sertão. Aquele sertanejo que só queria dar alegrias ao seu povo, deu muito mais: dignidade, honras, originalidade, poesia, identidade cultural. Na sua partida, o nordeste chorou, do litoral ao sertão. Sua ausência nos deixou órfãos, mas também herdeiros de todo o seu legado.

Como o badalar de um chocalho do gado sertanejo, sua voz nunca se calou, ao contrário, ressoa sem fronteiras, universal, limpa, viva como a esperança por chuvas no torrão. Ele nos ensinou que a Saudade Amarga que Nem Jiló…Saudades, meu remédio é cantar! No dia 02 de agosto de 1989, faleceu em Recife um sertanejo, como milhares de outros filhos do sertão…se eternizou Luiz Gonzaga, autêntico Rei do Baião!

*José Urbano é professor e historiador

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