24 de março de 2013

Ignorando ordens, Vettel foi “sujo”, corajoso ou só inconsequente?

Que climão, hein? (Foto: Mark Thompson / Getty Images)
Que climão, hein? (Foto: Mark Thompson / Getty Images)
Ah, as ordens de equipe...
Se eu fosse Mark Webber, estaria bem p*** agora.
Tente se colocar na situação do australiano. Você saiu dos boxes após sua última parada de pit stop e está na liderança, enquanto com seu companheiro vem na segunda posição. Sua equipe fala pelo rádio que a vitória é garantida e que basta poupar os pneus até a bandeirada. Mandam você diminuir o ritmo de rotações do motor apenas para proteger o equipamento. Você faz tudo isso. Então, meio do nada, seu companheiro vem para o ataque e faz a ultrapassagem numa manobra bastante arriscada, sem que você tenha tempo para se defender. Ué, mas o combinado não era manter posição? Por que mandaram poupar o carro se o outro cara iria tentar um ataque? Que baita sacanagem, não é mesmo?

Agora, vamos entrar na cabeça de Vettel. Você saiu do último pit stop na segunda posição, mas sente que é claramente mais rápido do que o cara em primeiro. A vitória está logo ali, ao alcance das mãos. São pontos fundamentais para você na disputa pelo título. A equipe manda poupar o carro, mas será que isso é mais importante do que conquistar o triunfo? Você quer vencer. Ou melhor, você precisa vencer. Oportunidades assim não podem ser desperdiças. É necessário ter coragem de enfrentar a equipe e buscar o que é mais importante no fim das contas: chegar em primeiro. Não é isso?
Sim, o importante é vencer. Mas, da forma como foi, provavelmente Vettel não deve estar se sentindo tão orgulhoso. Webber disse que havia um acordo pré-estabelecido entre todos dentro da equipe de que um não ataca o outro na fase final da corrida. É algo que o próprio australiano já teve de obedecer – basta lembrar das voltas finais do GP da Inglaterra de 2011, por exemplo. Se Vettel sabia desse trato e concordou em seguir a recomendação, então ele agiu bastante errado no fim da corrida. A vitória foi, digamos, “roubada”. Webber está certo de ficar irritado. Olhando sob esse ponto de vista, Vettel foi “sujo” por ter enganado o companheiro e vencido a disputa ao descumprir um acordo que o próprio Webber já havia obedecido quando a situação era inversa.

Por outro lado, será que Vettel está tão errado assim de ter ido atrás de uma vitória que pode ser fundamental na luta pelo tetra neste ano? Esse foi um triunfo que pode realmente fazer diferença lá na fase decisiva do campeonato. Somente um piloto corajoso e com peito para enfrentar a equipe poderia tomar uma decisão dessas, fundamental para qualquer um que deseja disputar o título. Piloto de ponta na Fórmula 1 não pode ser bonzinho. Não pode achar que vai ganhar campeonato prestando favor para companheiro de equipe. Nesse aspecto, Vettel não tinha nada que proteger Webber e fez certinho de buscar a vitória. Ou não?
Pois bem: “sujo” ou corajoso? Qual dos dois foi Vettel neste domigno? Quer saber... nenhuma das duas opções. Quando estava dentro do carro, durante as voltas finais, Vettel dificilmente teve tempo de pensar no que devia ou não fazer. Ali quem mandava era o instinto dele. Vettel partiu para cima de Webber porque naturalmente faria isso. Não parou para pensar nas consequências, nas críticas que isso poderia trazer e muito menos na reação furiosa de seu companheiro. Não, Vettel não foi “sujo” e “desonesto”, nem corajoso ou “machão” de peitar a equipe de propósito.
Foi, pura e simplesmente, inconsequente. Como diria o Chaves, Vettel ganhou meio que “sem querer, querendo”. No fim das contas, o que vai ficar é o resultado. E o que Vettel alcançou era exatamente o que ele precisava.

Massa não foi muito bem, não foi muito mal... uma corrida ‘mais ou menos’, no fim das contas (Foto: Mark Thompson / Getty Images)
Massa não foi muito bem, não foi muito mal... uma corrida ‘mais ou menos’, no fim das contas (Foto: Mark Thompson …
Que mania essa das equipes de pedir aos pilotos para “segurarem posição” nas voltas finais, hein? Em certas circunstâncias, é desnecessário. Todo o climão criado entre Vettel e Webber não teria acontecido se os dois tivessem disputado livremente, fosse quem fosse o vencedor. Essa postura das equipes é reflexo do estilo cada vez mais cauteloso que impera na Fórmula 1. Os comissários passam pesadelos cada vez que chove. Os chefes de equipe também morrem de medo de verem seus pilotos disputando posição na pista.
Só falta os pilotos reclamarem agora de terem de acelerar acima de 300 km/h...
Fair play
Aliás, a Mercedes também andou dando ordens nas voltas finais. A diferença é que Nico Rosberg, bom garoto, obedeceu e ficou comportado atrás de Lewis Hamilton. Fair play do alemão, que pareceu conformado com a ordem. De qualquer maneira, terceiro e quarto lugares foi um resultado animador para a Mercedes. A equipe parece ter um carro rápido e a próxima corrida é na China, onde Rosberg venceu ano passado.
Olho nos carros prateados. Pode ser que pinte uma nova surpresa em Xangai.
Bom para o gasto
A corrida de Felipe Massa foi razoável. Nem boa e nem ruim, apenas razoável. O quinto lugar deu para o gasto. Mesmo não dando para brigar lá na frente, o brasileiro marcou alguns pontinhos importantes e pulou à frente de Fernando Alonso no campeonato. O processo de recuperação de Massa continua.
Precipitação
Ops, acho que exagerei um pouco... (Foto: Mark Thompson / Getty Images)
Ops, acho que exagerei um pouco... (Foto: Mark Thompson / Getty Images)
Alonso errou. Enfiou o bico na traseira de Vettel e quebrou a asa logo na largada, mas o pior foi não ter ido aos boxes imediatamente para trocar a peça. Acabou fora da pista, com a asa presa no assoalho do carro e uma corrida desperdiçada. São pontos que vão fazer falta. E dessa vez nem Alonso e nem a Ferrari têm mais alguém a culpar.
Discreto
Kimi Raikkonen passou longe de repetir a vitória da Austrália. O sétimo lugar foi bem discreto, uma prova de que a Lotus ainda não está totalmente amadurecida para disputar vitórias em todas as corridas.
Saindo do zero
Nico Hulkenberg, Sergio Pérez e Jean-Eric Vergne somaram seus primeiros pontos no ano. Hulkenberg e Vergne devem ter saído satisfeitos. Pérez, por outro lado, provavelmente estava sonhando com resultados bem melhores nessa altura do campeonato...
Trapalhadas
O que aconteceu com a Force India nos boxes na Malásia? Abandono duplo por não conseguir trocar os pneus dos carros foi algo realmente inédito. A equipe indiana pagou um mico e tanto em Sepang...
Sono
Mais uma corrida de madrugada espera os fãs brasileiros da Fórmula 1 daqui a duas semanas, na China. Prepare o despertador de novo. Essa fase do ano é realmente complicada..

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