No Brasil, ninguém vai às ruas para protestar contra R$ 0,20 no aumento dos preços nas passagens de ônibus.
Na Turquia, pensam que uma multidão de milhares de pessoas protesta contra o corte de algumas árvores.
Na Grécia, imaginam que há uma greve geral devido à demissão de uns funcionários da rede estatal de TV.
Em Portugal, na Espanha, na Irlanda, ou em quantos outros países forem, os motivos evidentes de tanta revolta,
como no Egito, na Tunísia ou nas guerras palestinas, são apenas os
sinais aparentes de que há uma revolução mundial em curso. Há um rio
caudaloso e surdo de insatisfação, de injustiça, de rejeição ao domínio
do dinheiro sobre a razão humana de existir, que desaguou na crise
mundial deflagrada em Wall Street, há cinco anos. Dali, deste Inverno no
sistema capitalista, começou a Primavera Comunista no mundo.
Percebe-se o esgarçamento do capitalismo e fica evidente o jogo de
força dos países que defendem este sistema em declínio, na contramão de
um esforço mundial pela derrocada do egoísmo, da ditadura do capital.
O problema nunca foi o aumento de R$ 0,20 na roleta. A questão é mais
grave. É a empáfia dos governantes de acreditar que milhões de pessoas,
de brasileiros, de trabalhadores, irão aceitar que lhes sejam cobrados
R$ 0,20 a mais por um serviço ineficiente, indigno, planejado apenas
para aumentar a taxa de lucro das empresas concessionárias e de seus
acionistas, contra os interesses de milhões de cidadãos que precisam ir e
vir. A ótica é míope. E, o pior, acreditam – governo e ‘iniciativa
privada’ – que a nação é formada por imbecis, incapazes de perceber a
realidade dos fatos, a de que pretendem usurpar dos cidadãos o direito
ao discernimento.
Os R$ 3,00 ou o que seja, pagos hoje em dia, já representam a última
fronteira da paciência urbana. Ninguém mais aguenta dispensar não os
poucos centavos cobrados a mais na passagem. Mas a passagem em si. O
sistema está falido. A forma de pensar a sociedade, segundo a ótica de
quem não se importa com os R$ 0,20 a menos no bolso, está em seus
estertores.
O salário mínimo é mínimo demais para tanta riqueza que circula nas
bolsas de valores. Os valores que defendem os meios conservadores de
comunicação, as igrejas, os parlamentares alimentados com o soldo do
conservadorismo estão reduzidos à preservação das fortunas daqueles que
amealharam, quais piratas, as riquezas que pertencem a todos os seres
humanos. Apenas por serem humanos.
Agora, diante do tribunal das ruas, no calor das manifestações, da revolta
que arde desde Istambul à Avenida Paulista, os governantes colocados no
poder sob a contemplação do sistema ora em colapso aciona seu braço de
ferro. Balas de borracha e cacetetes, imaginam, serão os antídotos à
História. Pensam que têm o poder de parar a revolução mundial com o
sangue de heróis. Jovens heróis. Equivocam-se ao imaginar que jatos
d’água e gases lacrimejantes serão suficientes para deter a determinação
dos povos contra a injustiça social ou por uma sociedade mais fraterna.
Não perceberam que a Humanidade segue o seu curso. E ninguém é idiota.
Gilberto de Souza é jornalista e editor-chefe do Correio do Brasil.
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