A
VEJA desta semana traz uma reportagem do balacobaco, de autoria de Hugo
Marques e Rodrigo Rangel. A Polícia Militar de Pernambuco prendeu
quatro agentes da Abin que atuavam disfarçadamente no Porto de Suape, em
Pernambuco, com o objetivo de espionar as ações do governador do
Estado, Eduardo Campos (PSB), pré-candidato à Presidência da República.
Atenção! Não há nada de errado em haver agentes do serviço de
Inteligência acompanhando movimentos sociais que potencialmente
perigosos para a segurança pública ou do estado. As melhores democracias
do mundo fazem isso. Ocorre que não é esse o caso. Leiam trecho da
reportagem. A íntegra segue na edição impressa.
*
É colossal o esforço do governo para
impedir que decolem as candidaturas presidenciais do governador de
Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e da ex-senadora Marina Silva (sem
partido). Nos últimos meses, a presidente Dilma Rousseff reacomodou no
ministério caciques partidários que ela havia demitido após denúncias de
corrupção, loteou cargos de peso entre legendas desgarradas da base
aliada e pressionou governadores do próprio PSB a minar os planos de
Campos. Sob a orientação do ex-presidente Lula, Dilma trabalha para
Montar a maior coligação eleitoral da historia e, assim, impedir que
eventuais rivais tenham com quem se aliar. A maior parte dessa
estratégia é posta em pratica a luz do dia, como a volta dos “faxinados”
PR e PDT a Esplanada, mas ha também uma face clandestina na ofensiva
governista, com direito a espionagem perpetrada por agentes do estado.
Um dos alvos dessa ação foi justamente Eduardo Campos, considerado pelo
PT um estorvo à reeleição de Dilma pela capacidade de dividir com ela os
votos dos eleitores do Nordeste, região que foi fundamental para
assegurar a vitória da presidente em 2010.
0 Porto de
Suape, no Recife, carro- chefe do processo de industrialização de
Pernambuco, serviu de arena para o até agora mais arrojado movimento
envolvendo essa disputa pré-eleitoral. No dia 11 de abril, a Policia
Militar deteve quatro espiões da Agência Brasileira de Inteligência
(Abin) que fingiam trabalhar no local, mas há semanas se dedicavam a
colher informações que pudessem ser usadas contra Campos. A Secretaria
de Segurança Pública estadual já monitorava os agentes travestidos de
portuários fazia algum tempo. Disfarçados, eles estavam no
estacionamento do porto quando foram abordados por seguranças.
Apresentaram documentos de identidade e se disseram operários. Acionada
logo depois, a PM entrou em cena. Diante dos policiais, os espiões
admitiram que eram agentes da Abin, que estavam cumprindo uma missão
sigilosa e pediram que não fossem feitos registros oficiais da detenção.
0 incidente foi documentado em um relatório de uma página, numa folha
de papel sem timbre, arquivada no Gabinete Militar do governador.
Contrariado com a espionagem, Eduardo Campos ligou para o chefe do
Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República,
general Jose Elito Siqueira, a quem o serviço secreto do governo está
subordinado.
Em uma
reunião com aliados do PPS, o governador contou que o general garantiu
que não houve espionagem de cunho político, ou de viés eleitoral, mas
apenas um trabalho rotineiro. “Nos fazemos apenas monitoramento de
cenários para a presidenta”. ponderou o chefe do GSI. Apesar da
gravidade do incidente, o caso foi dado como encerrado pelos dois lados.
Poucas pessoas souberam da história. A elas, Campos explicou que não
queria tornar público o episódio para não “atritar” ainda mais a relação
com o Palácio do Planalto nem causar um rompimento entre as partes. Mas
houve desdobramentos. “Tive de prender quatro agentes da Abin que
estavam me monitorando”. Revelou Eduardo Campos. E ainda desabafou:
“Isso é coisa de quem não gosta de democracia, de um governo
policialesco”. Pediu aos aliados que o assunto fosse mantido em segredo.
“Não tenho nada a dizer sobre isso”, desculpou-se na semana passada o
deputado Roberto Freire, presidente da legenda, que estava presente a
reunião.
Os agentes
detidos no Porto de Suape trabalham na superintendência da Abin em
Pernambuco. São eles: Mario Ricardo Dias de Santana, Nilton de Oliveira
Cunha Junior, Renato Carvalho Raposo de Melo e Edmilson Monteiro da
Silva. No dia da detenção, usavam um Palio (JCG-1781) e um Peugeot
(KHI-1941). A placa do Pálio é fria, não existe. Já a do Peugeot é
registrada em nome da própria Abin. Na semana passada, o agente sênior
Mario Santana se aposentou. Nilton Junior e Renato de Melo davam
expediente normalmente na superintendência. Já Edmilson Silva, na
quinta-feira, estava escalado para o plantão noturno. Nada mais natural.
Edmilson Silva tem uma dupla jornada de trabalho. Além de espião, é
vereador, eleito pelo PV, no município de Jaboatão dos Guararapes. Vive,
portanto, urna situação curiosa. Durante o dia, como vereador, é um
defensor das liberdades. Às escuras, como araponga, une-se aos colegas
de repartição para violá-las. “Fui ao Porto de Suape algumas vezes
apenas para visitar amigos”, disse a VEJA o agente-vereador.
(…)
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