O milho subsidiado pelo governo Federal com a finalidade de atender aos agricultores atingidos pela seca não está sendo suficiente para quem precisa dele na área rural de Ouricuri. “Há mais de mês, fiz o cadastro, paguei R$ 217 para receber 12 sacos e até agora não apareceu qualquer caroço de milho. Acabei de jogar no mato duas galinhas que morreram de fome”, reclamou nesta quinta (6) ao JC o agricultor Sebastião de Sá Pereira, que mora no Sítio São João, área rural de Ouricuri.
Segundo ele, só consegue comprar o milho a preço mais baixo quem está na cidade na hora em que o produto chega. Depois da estiagem, Sebastião diminuiu a alimentação dos animais e já perdeu “32 cabeças” entre as aves que cria. Atualmente, são 96 animais na sua propriedade e os ovos são sua única fonte de renda. “Os animais só vão ficar mais tempo vivo se chegar esse milho. Quem me dá de comer é um filho que trabalha num sindicato na cidade”, contou.
O subsídio do milho para os produtores atingidos pela seca foi definido numa lei, publicada no Diário Oficial no dia 29 de julho. Em Ouricuri, o milho vendido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) só chegou no final de setembro. Lá, foram vendidas 770 toneladas do produto a 807 produtores, embora tenham sido cadastrados 3 mil agricultores que desejavam comprá-lo. O saco do grão com 60 quilos é vendido por R$ 18,12 para quem consome até 3 mil quilos por mês, R$ 21 para os produtores que necessitam de 3.001 quilos a 7 mil quilos mensais e R$ 24,60 para os que gastam de 7.001 quilos a 14 mil quilos mensalmente. A compra é vantajosa porque um saco varia entre R$ 45 e R$ 60 no mercado.
A agricultora Severina Francisca da Silva está “desesperada” por não ter comida para oferecer as suas 50 ovelhas. Dez animais morreram devido à falta de comida provocada pela estiagem. Ela pagou por dois sacos de milho subsidiado em setembro e, desde então, planejava comprar dois sacos todo mês. “A primeira remessa chegou na última quinta e já acabou. Ontem fui a cidade e comprei dois sacos por R$ 100, pois não tinha como comprar o mais barato“, comentou.
“A situação está tão precária, até o mandacaru está se acabando. Querem pagar R$ 30 por uma ovelha. Vou dar o restante do mandacaru e milho, mas não vou vender as ovelhas. Se continuar desse jeito, para o ano, nem a gente escapa”, afirmou a agricultora. As aposentadorias dela e do esposo são a única fonte de renda da família. Antes da seca, conseguia vender uma ovelha por R$ 200.
Além da chuva, o único outro fator que pode aliviar a atual situação da agricultora é a liberação de um empréstimo de R$ 12 mil, pedido em junho ao Banco do Nordeste. Ela nem sabe mais quantas promessas fez para Padre Cícero na intenção de conseguir o financiamento, com o qual pretende fazer um estoque de ração, melhorias e comprar equipamentos para moer o mandacaru. Severina nem entendeu porque o seu financiamento não saiu. “O banco é um tumulto, tem muita gente e dizem para ter paciência”, lamentou, se referindo à agência de Ouricuri. blogdobrunomorais.
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